3 de março de 2020

Na natureza nada se perde e através da Economia Circular o lixo se transforma

English version follows 

 

Alvany Maria dos Santos Santiago, professora da Univasf

Ana Rubia Torres Carvalho, Secretária Executiva da Biosfera da Reserva da Caatinga

Saville Alves, gestora da Solos 

Andréa Ventura, professora da UFBA


O “lixo” vem sendo apontado por especialistas e organizações internacionais, como a ONU, como um dos desafios prioritários para combater o avanço das Mudanças Climáticas. No Brasil,  país marcado pelas altas taxas de pobreza e desigualdade, as falhas na gestão de resíduos se revelam através da incidência de doenças endêmicas, decorrentes da ausência de adequada coleta de lixo e redes sanitárias de esgoto. Em 2010, foi promulgada a Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305, que aponta dentre outras necessidades a diminuição da geração dos resíduos, seja pelo aumento do tempo de consumo ou através da circulação destes materiais, dando-lhes novos usos. Entretanto, passado todos esses anos, a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) registrou no Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil de 2018 o total de 79 milhões de toneladas de resíduos gerados, sendo inexpressivo o percentual destinado à reciclagem.

Revela-se, assim, a necessidade de adaptação do mercado, tanto para a indústria, que deve repensar a cadeia produtiva, especialmente no que tange a matéria-prima e consumo energético (tanto para a produção de seus produtos como no transporte posterior), quanto para o consumidor final, que deve diminuir suas compras e incorporar uma cultura de não-desperdício. Com isso, emerge um novo paradigma de produção: a economia circular ou biomimética ou ainda produção em ciclos fechados. Este novo modelo advoga que os itens (bens ou serviços) devem ser concebidos, desde seu projeto, de modo a não gerar resíduos. Exatamente como ocorre no meio ambiente. O Princípio da Conservação das Massas ou Princípio de Lavoisier preconiza que “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma” (Sulaiman, 2011). Daí a inspiração da nova forma de produção: imitar, mimetizar no espaço industrial o que se dá no meio natural. São três os princípios da Economia Circular, trazidos por McDonough e Braungart (2002):

I - Todas as substâncias  são vistas como “nutrientes”.  Preconiza-se a erradicação de materiais que fazem mal à saúde humana ou ao meio ambiente.  Há que se atentar para a finalidade do seu emprego. Como e onde ela será utilizada. Um exemplo clássico é o carbono. No espaço natural, as árvores sequestram o carbono e por meio da fotossíntese (valendo-se da energia solar) devolvem oxigênio ao ambiente. O dito “Homo Sapiens” lança o gás carbônico (e outros tantos de efeito estufa) na atmosfera, violando a camada de ozônio, comprometendo (ameaçando) a vida no planeta.

II - Uso de energias renováveis. A erradicação paulatina da utilização de combustíveis fósseis, priorizando-se o emprego de energia solar, eólica, hidráulica para citar algumas.

III- A valorização da diversidade local. Não apenas de fauna e flora, mas de gêneros, materiais, povos, culturas etc.  

Já há milhares de produtos no mundo sendo fabricados segundo esses princípios. A Biomimética sustenta que os 3.8 bilhões de anos da Natureza têm muito a ensinar à raça humana, com menos de 500 mil de anos sobre a face da Terra. Assim, transpondo a ideia para a realidade do nosso Semiárido, é como se fizesse muito mais sentido que, numa região onde o índice de precipitação pluviométrica é três vezes menor que o de insolação, aqui se devesse armazenar o recurso hídrico protegido da incidência da luz solar,como o umbuzeiro. E o Bioma Caatinga apresenta uma carência de estudos em várias áreas do conhecimento, conforme sinaliza Drummond (2012). Nosso desafio é identificar as potencialidades da biodiversidade da região semiárida brasileira e difundindo o conceito da economia circular, contribuir para a construção de um Bioma Caatinga economicamente próspero, socialmente justo e ambientalmente rico.

In Nature, Nothing Is Lost and Through the Circular Economy, Garbage IsTransformed

 

Alvany Maria dos Santos Santiago, professor at University Federal of São Francisco Valley (Univasf)

Ana Rubia Torres Carvalho, Executive Secretary for the Biosphere Reserve of Caatinga

Saville Alves, Soil manager

Andréa Ventura, professor at Federal University of Bahia (UFBA)



"Garbage”, has been pointed out by experts and international organizations, including the United Nations, is one of the priority challenges in combating the advance of climate change. In Brazil, a country marked by high rates of poverty and inequality, failures in waste management are revealed by the incidence of endemic diseases resulting from the absence of adequate waste and sewage collection networks. In 2010, the National Solid Waste Policy, Law 12,305, was enacted, which highlights the need, among others, to reduce waste generation, either by extending the useful life of products or by recycling these materials, giving them new uses. However, after all these years, the Brazilian Association of Public Cleaning and Special Waste Companies (ABRELPE) published the Overview of Solid Waste in Brazil, in 2018, 79 million tons of waste generated annually, with the percentage destined for recycling being insignificant.


Thus, markets need to adapt. Industry must rethink the production chain, especially with regard to raw materials and energy consumption in both manufacturing and transport of its products, while consumers must decrease their purchases and incorporate a culture of non-waste. With this, a new production paradigm emerges: a circular or biomimetic economy, or even closed-loop production. This new model says items (goods or services) must be conceived and designed, as occurs in nature, not to generate waste. The Mass Conservation or Lavoisier Principle states that “in nature nothing is lost, nothing is created, everything is transformed” (Sulaiman, 2011). This is the inspiration for a new form of production: mimicking in the industrial space what happens in the natural environment. There are three principles of a "circular economy",elucidated by McDonough and Braungart (2002):


I - View all substances as "nutrients". Materials that harm human health or the environment should be eradicated. Attention must be paid to how and where it will be used. A classic example is carbon. In nature, trees sequester carbon and use solar energy through photosynthesis to return oxygen to the environment. The so-called “Homo Sapiens” release carbon dioxide and many other greenhouse gases into the atmosphere, damaging the ozone layer and compromising or threatening life on the planet.


II - Use renewable energies. Gradually eliminate the use of fossil fuels, giving priority to solar, wind, and hydraulic energy, to name a few.


III- Recognize the economic value of local diversity -- not just of fauna and flora, but of genres, materials, peoples, cultures, etc.


There are already thousands of products in the world being manufactured according to these principles. Biomimetics maintains that 3.8 billion years of Nature have much to teach the human race, which has existed on the face of the Earth for less than
five hundred thousand years. Transposing the idea to the reality of our semi-arid climate, it makes a lot more sense that, in a region where the rate of rainfall is one third that of solar radiation, water resources should be stored protected from evaporation, like the umbuzeiro (Brazil plum). Studies are lacking in several areas of knowledge regarding the Caatinga Biome, as indicated by Drummond (2012). Our challenge is to identify the potential of biodiversity in the Brazilian semi-arid region and spread the concept of the circular economy, contributing to the construction of an economically prosperous, socially just, and environmentally rich Caatinga Biome.


Note: The authors appreciate John Gunther's generous contribution to the English version of this article.

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