3 de fevereiro de 2023

Diário de bordo de Lívia, nossa graduanda, na COP 27, no Egito

 


Meu nome é Lívia Chaves Marcolin, sou faço iniciação científica no GpS, e eu participei da segunda semana da COP 27 em Sharm El Sheikh, no Egito, como ativista socioambiental da Fridays for Future Brasil. Minha agenda durante a minha semana de participação esteve mais focada nas pautas relacionadas às perspectivas do novo governo do Brasil, à justiça climática e às decisões referentes à criação do fundo para perdas e danos. Além disso, tive a oportunidade de participar como speaker em dois painéis diferentes, e ser entrevistada por jornalistas de diferentes países. Também pude participar de uma manifestação dentro da COP a partir da plenária da Juventude por justiça climática, e acompanhar a leitura da carta elaborada pela juventude para os Stakeholders


O primeiro painel que participei como speaker ocorreu no dia 8 de novembro de 2022, às 18h00 no horário local de Sharm El Sheikh. O título do painel foi “Vozes jovens na necessidade urgente de transformação de sistemas alimentares”, e eu representei a América Latina. O objetivo do evento foi reunir representantes de todo mundo para compreender as diferentes perspectivas no que se refere a sistemas alimentares e como nós estamos mudando esses sistemas implementando soluções em nossas regiões, apesar da falta de comprometimento dos tomadores de decisão, com o foco nas dietas baseadas em plantas como uma parte central da mitigação e adaptação das soluções relativas às mudanças climáticas.

O segundo painel no qual eu tive a oportunidade de participar como explicar teve como objeto jovens estudantes e pesquisadores para justiça ambiental, e ocorreu no Pavilhão de justiça climática, no dia 15 de novembro, às 10h30. Nesse painel eu apresentei ambas as minhas pesquisas: uma que relaciona a Justiça Ambiental Crítica, que é um framework criado pelo professor da Universidade da Califórnia David Naguib Pellow, com a pandemia; e outra que faz uma comparação das estratégias de Resiliência urbana e climática de três cidades litorâneas brasileiras: Santos, Rio de Janeiro e Salvador. Nessa oportunidade, eu fiz questão de deixar bem claro as diferenças sofridas pelo norte global e pelo sul global no tocante às mudanças climáticas. Para mim foi chocante observar que dentre as cinco painelistas presentes eu era a única vinda do sul global, especialmente considerando que se tratavam de exposições sobre justiça climática. Eu tive 15 minutos para apresentar meus dois trabalhos, o que foi um desafio, porém foi um tempo bem aproveitado, e, aparentemente, foi possível chamar atenção para os problemas que o sul global vem enfrentando em relação ao norte, com o foco no Brasil e na cidade onde eu vivo, Salvador-BA. 



Para além das minhas participações como speaker, eu segui a agenda focada em justiça climática, os protestos que ocorreram dentro da conferência e a agenda do Brazil Climate Action Hub, para acompanhar, também, as discussões sobre as perspectivas para o novo governo brasileiro. Sendo assim, estive presente em diversas palestras da ex-ministra do meio ambiente, Marina Silva, com o objetivo de compreender melhor o que se espera para o Brasil no tocante ao meio ambiente para os próximos anos. 

No penúltimo dia do evento, 17 de novembro, eu fui convidada para participar da elaboração da "People's Declaration” para as mudanças climáticas, e da "People's Plenary", onde jovens de diversos países discursaram sobre suas realidades e sobre a necessidade urgente de mudança. Após a plenária, todos os presentes saíram diretamente rumo a uma grande manifestação clamando por justiça climática, extinção do uso de fósseis e preservação da natureza e dos povos originários. Foi uma experiência única participar dessa manifestação ao lado de garotas egípcias, especialmente levando em consideração que no Egito manifestações são proibidas, e as garotas que estavam comigo nunca tinham participado de algo assim. 

Por fim, no último dia da COP, eu fui para a Plenária assistir as negociações sobre o plano de implementação. Apesar de ser um tanto quanto difícil de acompanhar e compreender exatamente o que estava sendo discutido, especialmente devido ao alto nível de detalhismo, mas foi uma vivência muito interessante e engrandecedora. 

Toda essa experiência me trouxe diversos insights relativos tanto ao ativismo, quanto à pesquisa, quanto ao meu trabalho na ERA com créditos de carbono. Eu percebi o quão difícil é ocupar esses espaços, especialmente sendo uma mulher vinda de um país do sul global latinoamericano. Além disso, foi muito importante ver a decisão final da criação de um fundo de perdas e danos, porém, questionável a falta de avanços com relação a como será elaborado esse fundo, por quem e para quem. Também tive reflexões quanto à falta de decisões com relação à redução do uso de combustíveis fósseis e as discussões incipientes sobre a transição energética justa, e como devemos reivindicar isso na esfera do ativismo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário